Folhetim | Casa de Hóspedes (7º. Episódio)

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FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério

Casa de Hóspedes (7º. Episódio)

Não se pode dizer que o quarto independente fosse lugar isento de prevaricações, nomeadamente no tempo em que lá habitaram o Zeferino e o Gil, jovens estudantes, inteligentes, procurando avidamente o que a capital lhes podia oferecer, nas suas casas de vinho e miúdas, que o Zeferino referia, cofiando o bigode farto, o olhinho maroto a luzir. Cultivava um certo ar de filho pródigo a quem a mesada voava no mesmo dia em que chegava. Havia sempre o recurso à Dona Júlia, a quem contava dos meliantes que lhe tinham sacado a carteira do bolso de trás dos jeans, num pequeno bar de tinto e boleros, uma facadita no seu bom comportamento, que um homem não é de ferro. Condoída, pensando nele como num menino fora do lar paterno, alvo de más companhias, Dona Júlia lá lhe emprestava menos do que ele pedira, mas mais do que esperava.

Mais calado, mais manhoso, o Gil alongava os seus estudos de Medicina, tomava drunfos nas vésperas de exames, até que um dia se deu mal e foi de charola no 115, com grande susto da Dona Júlia, e o Zeferino a desabafar, bem lhe disse que a mistura podia dar bronca.

O que intrigava mesmo a dona da casa eram os retratos daqueles homens tão feios, um de boina com uma estrela e o outro já bem velho, de olhos em bico, com umas barbas compridas. Eles diziam-lhe ser retratos de actores que tinham roubado (confessavam) numa sala de cinema, a coberto do escuro, por isso, compreendesse a Dona Júlia, era melhor guardar segredo, não fosse o diabo tecê-las. Um dia, na repetição desta explicação, que não parecia muito plausível à Dona Júlia, o Gil entusiasmou-se e gritou Hasta la Victoria Siempre. Apressou-se o Zeferino a acalmá-lo, a Dona Júlia disse, pois, pois, retirou-se e manteve sigilo, murmurando, rapazolas, vá lá entendê-los.

 

(continua)

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